Diferentes evidências associam a obesidade ao aumento do risco de câncer. Agora, estudo de Eduardo Botti Abbade (foto) publicado na Public Health mostra que a prevalência da obesidade no Brasil implica altos custos diretos e indiretos para a saúde pública. A análise mostra que o aumento de 1 ponto no IMC populacional leva a um aumento anual de US$ 62 milhões em novas internações hospitalares, enquanto o aumento de 1% na taxa de obesidade do Brasil adiciona US$ 12,3 milhões por ano em novas internações hospitalares no sistema público de saúde. Cada aumento de 1 ponto no IMC populacional pode custar ao governo brasileiro R$ 387,3 milhões a mais anualmente em 23 doenças não transmissíveis relacionadas à obesidade, entre elas o câncer.
Neste estudo, Eduardo Abbade, da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, analisa a prevalência de sobrepeso/obesidade no Brasil e seus custos em relação a internações hospitalares, benefícios de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença associados a doenças não transmissíveis (DNTs) relacionadas à obesidade.
O pesquisador considerou dados do sistema VIGITEL (2010–2019) para calcular o índice de massa corporal (IMC) de adultos residentes nas capitais brasileiras, além de dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) e do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) para analisar informações sobre internações hospitalares, benefícios de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença por DNTs relacionadas à obesidade. Modelos de correlação de Pearson e regressão linear foram aplicados. Abbade descreve que selecionou 23 doenças da Classificação Internacional de Doenças (CIDs) pertencentes aos capítulos C; E; I; e K. Os valores de custo em reais foram deflacionados usando o IPCA.
No Brasil, dados de 2021 do VIGITEL — um amplo estudo de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas conduzido pelo Ministério da Saúde — revelaram que aproximadamente 57,25% da população adulta se autodeclarou com sobrepeso e 22,35% se autodeclarou obesa.
Agora, os resultados relatados na Public Health mostram aumento significativo nas taxas de sobrepeso e obesidade no Brasil, com o IMC aumentando em 0,09 kg/m2 anualmente, descreve Abbade. A análise de regressão revelou que cada aumento de 1 ponto no IMC médio da população está associado a um aumento de 81.772 (R$ 237,51 milhões/ano) novas internações hospitalares por ano, 5.541 (R$ 18,8 milhões/ano) benefícios de aposentadoria por invalidez concedidos por ano e 42.360 (R$ 131 milhões/ano) novos pedidos de auxílio-doença.
“Além disso, cada aumento de 1% na parcela da população brasileira com obesidade está associado a um aumento de 16.973 (R$ 48,8 milhões/ano) novas internações hospitalares por ano, 1.202 (R$ 3,97 milhões/ano) novas aposentadorias por invalidez concedidas por ano e 8.686 (R$ 26,8 milhões/ano) pedidos de auxílio-doença”, analisa o pesquisador.
Esses resultados destacam o ônus que a obesidade impõe ao Sistema Único de Saúde (SUS), em uma contribuição valiosa para ampliar a compreensão sobre o impacto da prevalência da obesidade na população brasileira.
Referência:
Eduardo Botti Abbade, The cost of obesity and related NCDs in Brazil: An analysis of hospital admissions, disability retirement benefits, and statutory sick pay,
Public Health, Volume 237, 2024, Pages 184-192, ISSN 0033-3506,
https://doi.org/10.1016/j.puhe.2024.10.006.