Ricardo Pastorello (foto), atualmente patologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é primeiro autor de estudo que avalia o padrão de doença residual em pacientes com câncer de mama tratadas com quimioterapia neoadjuvante que não apresentam resposta patológica completa. “As características clínico-patológicas pré-tratamento que predizem o padrão do tumor residual não estão bem estabelecidas”, observam os autores. Os resultados foram publicados na Modern Pathology, periódico do Grupo Nature.
“Há muito se sabe que entre as pacientes com câncer de mama tratadas com quimioterapia neoadjuvante (NAC) que não atingem resposta patológica completa (pCR), o padrão histológico do carcinoma residual é variável. Em muitos casos, o tumor responde de forma concêntrica e se apresenta com um padrão circunscrito na peça cirúrgica pós-tratamento. Em contrapartida, outros respondem de maneira heterogênea, apresentando um padrão disperso de doença residual, com blocos tumorais divididos por amplas áreas de fibrose, como um ‘queijo suíço’”, afirma Pastorello.
O patologista explica que a ausência de “tumor na tinta” é uma das definições comumente usadas para margens cirúrgicas negativas na ressecção de carcinomas mamários invasivos residuais pós-NAC. “Ao passo que essa definição parece razoável para as pacientes que respondem com um padrão circunscrito, aquelas que apresentam um padrão disperso podem ter ausência de “tumor na tinta”, sem que isso signifique que toda a lesão foi ressecada. As características clínico-patológicas que predizem esses padrões de resposta ainda não haviam sido estudadas”, esclarece.
No estudo, os pesquisadores realizaram uma revisão detalhada das seções histológicas das amostras cirúrgicas pós-tratamento de 665 pacientes com câncer de mama em estágio I-III, tratadas com quimioterapia neoadjuvante seguida por cirurgia, entre 2004 e 2014 no Dana-Farber/Brigham and Women’s Cancer Center em Boston, nos EUA.
Entre as participantes, 242 (36,4%) apresentavam câncer de mama receptor hormonal positivo/HER2-negativo (HR+/HER2-), 216 (32,5%) com tumores HER2-positivo (HER2+) e 207 (31,1%) com câncer de mama triplo negativo (TNBC). A revisão de lâminas foi cega para as características clínico-patológicas pré-tratamento. A resposta patológica completa foi alcançada em 7,9%, 37% e 37,7% dos tumores HR+/HER2−, HER2+ e TNBC, respectivamente (p <0,001).
Entre 389 pacientes com carcinoma invasivo residual nos quais o padrão de doença pôde ser avaliado, 287 (73,8%) tinham um padrão disperso e 102 (26,2%) apresentavam um padrão circunscrito. Em ambas as análises uni e multivariada, houve uma associação significativa entre o subtipo de tumor e o padrão de resposta.
Entre as pacientes com tumores HR+/HER2−, 89,4% apresentaram padrão disperso e apenas 10,6% padrão circunscrito. Em contraste, entre aquelas com tumores triplo-negativos, 52,8% apresentaram padrão circunscrito e 47,2% padrão disperso (p <0,001). Além do subtipo, o grau histológico e o tamanho do tumor na apresentação também foram significativamente relacionados ao padrão de doença residual na análise multivariada, com grau baixo/intermediário e tamanho maior associados a um padrão de resposta dispersa (p = 0,002 e p = 0,01, respectivamente).
“Em nosso trabalho, o tamanho inicial do tumor, o grau histológico e, principalmente, o subtipo do carcinoma, definido através de receptores hormonais e HER2, foram significativa e independentemente associados ao padrão de resposta tumoral nas pacientes que não atingiram pCR. Esses achados podem trazer novos insights para o manejo cirúrgico desses casos, com potencial para ajudar na identificação de quais pacientes conseguiriam ser tratadas com margens limitadas e quais se beneficiariam de ressecções mais amplas”, conclui Pastorello.
Referência: Pastorello, R.G., Laws, A., Grossmith, S. et al. Clinico-pathologic predictors of patterns of residual disease following neoadjuvant chemotherapy for breast cancer. Mod Pathol (2020). https://doi.org/10.1038/s41379-020-00714-5