Estudo que avaliou a prevalência e gravidade das reinfecções por SARS-CoV-2 em pacientes com câncer mostra que as reinfecções em sobreviventes de COVID-19 com câncer são possíveis e mais comuns naqueles com malignidades hematológicas. As reinfecções acarretam risco de mortalidade de 11%, que sobe para 15% entre pacientes não vacinados, reforçando a importância da vacinação universal em pacientes com câncer.
Neste estudo de pesquisadores do Imperial College, o objetivo foi documentar a história natural e o resultado da reinfecção por SARS-CoV-2 em pacientes recrutados para o OnCovid (NCT04393974), um registro europeu ativo que inscreveu pacientes consecutivos com histórico de malignidade sólida ou hematológica diagnosticados com COVID-19.
Em dezembro de 2021, dos 3.108 participantes elegíveis, 1.806 sobreviventes da COVID-19 foram posteriormente acompanhados nas instituições participantes. Entre eles, 34 reinfecções (1,9%) foram relatadas após um tempo médio de 152 dias (intervalo: 40-620) a partir do primeiro diagnóstico de COVID-19, e com um período médio de observação a partir da segunda infecção de 115 dias (IC 95%: 27–196).
Os resultados foram relatados no British Journal of Cancer e mostram que a maioria das primeiras infecções foi diagnosticada em 2020 (27, 79,4%), enquanto a maioria das reinfecções em 2021 (25, 73,5%). As malignidades hematológicas foram o tumor primário mais frequente (12, 35%). Em comparação com as primeiras infecções, as segundas infecções tiveram menor prevalência de sintomas de COVID-19 (52,9% vs 91,2%, P = 0,0008) e necessitaram de menos terapia específica para COVID-19 (11,8% vs 50%, P = 0,0013). A taxa de letalidade em 14 dias foi de 11,8%, com quatro eventos fatais, nenhum deles entre pacientes totalmente vacinados.
Nenhum paciente reinfectado foi totalmente vacinado contra SARS-CoV-2 antes da primeira infecção. Entre os reinfectados, 11 (32,4%) estavam recebendo terapia antineoplásica sistêmica (SACT) no início da COVID-19, sendo 4 (36,4%) tratados com quimioterapia (isolada ou em combinação com outros agentes), 1 (9,1%) em tratamento com inibidores de checkpoint imune, 5 (45,4%) em tratamento com anticorpos monoclonais/inibidores de tirosina quinase e 1 (9,1%) recebendo terapia endócrina. Os autores destacam que entre os pacientes em tratamento com SACT no momento da primeira infecção (dentro de 4 semanas antes da COVID-19), um (9,1%) descontinuou permanentemente o tratamento, cinco (45,4%) retomaram o tratamento após ajuste de regime/dose e quatro (36,4%) continuaram o mesmo regime sem alterações.
Entre os 29 pacientes que foram submetidos à avaliação clínica entre as duas infecções, 7 (25%) relataram sequelas de COVID-19 (6, 85,7% respiratórias, 2, 28,6% outras). Uma migração de estágio de doença não avançada para doença avançada entre infecções foi relatada em apenas 1 (2,9%) paciente.
Em conclusão, este estudo é o primeiro a relatar infecções por SARS-CoV-2 em pacientes com câncer que desenvolveram imunidade natural anterior, sugerindo que aproximadamente 2% dos pacientes com câncer podem sofrer reinfecções. Os autores destacam que as reinfecções acarretam risco de mortalidade de 11%, que sobe para 15% entre pacientes não vacinados.
Referência: Cortellini, A., Aguilar-Company, J., Salazar, R. et al. Natural immunity to SARS-CoV-2 and breakthrough infections in vaccinated and unvaccinated patients with cancer. Br J Cancer 127, 1787–1792 (2022). https://doi.org/10.1038/s41416-022-01952-x