Os registros de biópsia renal são ferramentas valiosas para orientar a prática clínica e desenvolver políticas de saúde. Em 2021, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) criou o Registro Brasileiro de Biópsia Renal, que acaba de apresentar seu primeiro relatório, em artigo de Irene L. Noronha (foto) e colegas, na Plos One. A análise reflete a participação de 21 centros, com representação de todas as regiões brasileiras.
O Registro Brasileiro de Biópsia Renal é uma plataforma baseada na web hospedada no site da SBN, que reúne dados demográficos de pacientes, dados clínicos, frequência e distribuição de diagnóstico histológico de biópsias renais nativas de adultos brasileiros.
Noronha e colegas descrevem que dos 1.012 casos registrados em 2021, uma coorte de 954 casos foi relatada após a exclusão de casos pediátricos e de transplante renal. A base de análise mostra discreta predominância de mulheres (52,6%), com média de idade de 44,7 ± 16 anos e 13,6% dos pacientes tinham >65 anos. A principal indicação para biópsia renal foi disfunção renal (56%) e síndrome nefrótica (41,4%), respectivamente. No momento da biópsia, 47,9% dos pacientes eram hipertensos e 15,2% eram diabéticos. Embora 66,2% dos pacientes tivessem eGFR ≤60ml/min/1,73m2 na biópsia, a maioria (60,2%) tinha fibrose intersticial leve e atrofia tubular. O diagnóstico mais frequente no registro brasileiro foi doença glomerular (74,8%). A nefrite lúpica foi o diagnóstico mais frequente de doença glomerular (22,6%), seguida por nefropatia por IgA (13%) e glomeruloesclerose segmentar focal (12,2%).
“Este é o primeiro relatório de um registro nacional de biópsias renais no Brasil. Esses dados fornecem informações essenciais sobre o perfil da doença renal neste país com dimensões continentais”, destacam os autores.
Com o maior programa público de transplante renal do mundo e a quarta maior população global de diálise, com mais de 150 mil pacientes, o Brasil avança com a implementação do registro nacional de biópsia renal, que se constitui em ferramenta fundamental para estudos sobre a epidemiologia das doenças glomerulares no País. Como esperado, a região Sudeste responde pelo maior número de casos registrados, como reflexo da concentração de centros de diálise e transplantes na região.
O trabalho de Noronha et al. revela ainda que, além dos resultados esperados de doenças glomerulares como o diagnóstico mais frequente, é importante destacar a prevalência de nefropatia diabética confirmada por biópsia e também o diagnóstico de gamopatias monoclonais e TMA.
Além de Irene L. Noronha (Hospital das Clínicas, USP), o trabalho tem a participação de Rodrigo José Ramalho (Divisão de Nefrologia, Escola Médica de São José do Rio Preto), Claudia Maria Costa de Oliveira (Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza), Marilia Bahiense-Oliveira (Departamento de Nefrologia Clínica, Sociedade Brasileira de Nefrologia), Fabricio Augusto Marques Barbosa (Departamento de Nefrologia Clínica, Sociedade Brasileira de Nefrologia), José de Resende Barros Neto (Departamento de Nefrologia Clínica, Sociedade Brasileira de Nefrologia), Ronny Mitsuoka (Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da USP), Osvaldo Merege Vieira-Neto (USP Ribeirão Preto) e Precil Diego Miranda de Menezes Neves (Departamento de Nefrologia Clínica, Sociedade Brasileira de Nefrologia; Hospital das Clínicas, USP e Hospital Oswaldro Cruz).
Referência:
Noronha IL, Ramalho RJ, Oliveira CMCd, Bahiense-Oliveira M, Barbosa FAM, Barros Neto JdR, et al. (2025) Implementation and first report of the Brazilian Kidney Biopsy Registry. PLoS ONE 20(2): e0312410. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0312410