Meta-análise de 15 ensaios clínicos sugere que, entre pacientes com câncer e infecção respiratória ou sepse suspeita ou comprovada, o uso de procalcitonina sérica (PCT) para orientar decisões de tratamento resulta em exposição reduzida a antibióticos, com possível redução na mortalidade, particularmente entre pacientes mais jovens. A conclusão é de estudo relatado na BMC Cancer, com participação dos brasileiros Carolina F. Oliveira (foto) e Vandack Nobre, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
O uso de procalcitonina sérica (PCT), um biomarcador inflamatório para infecções bacterianas, mostrou resultados promissores para a interrupção precoce do tratamento com antibióticos entre pacientes com infecções respiratórias e sepse. Nesta meta-análise, o objetivo foi reunir dados adicionais sobre a eficácia e segurança de PCT entre pacientes com câncer neste contexto clínico.
Dados individuais de pacientes com diagnóstico documentado de câncer e infecção respiratória comprovada ou suspeita e/ou sepse foram extraídos de ensaios anteriores, onde pacientes adultos foram randomizados para receber tratamento com antibióticos com base em um protocolo PCT ou tratamento usual (grupo de controle). Os desfechos primários de eficácia e segurança foram exposição a antibióticos e mortalidade por todas as causas em 28 dias.
Os resultados mostram que a base de análise incluiu 777 pacientes com diagnóstico de câncer de 15 ensaios clínicos randomizados. Em relação à eficácia, a análise aponta redução de 18% na exposição a antibióticos em pacientes randomizados para tratamento guiado por PCT em comparação ao tratamento usual ([dias] 8,2 ± 6,6 vs. 9,8 ± 7,3; diferença ajustada, − 1,77 [IC de 95%, − 2,74 a − 0,80]; p < 0,001).
Em relação à segurança, a meta-análise revela a ocorrência de 72 mortes em 379 pacientes no grupo guiado por PCT (19,0%) em comparação com 91 mortes em 398 participantes no grupo de tratamento usual (22,9%), resultando em um OR ajustado de 0,78 (IC de 95%, 0,60 a 1,02). Os autores descrevem também que uma análise de subgrupo mostrou redução significativa na mortalidade em pacientes com menos de 70 anos (OR ajustado, 0,58 [IC de 95%, 0,40 a 0,86]).
“Até onde sabemos, este é o maior estudo que examina o papel de um protocolo guiado por PCT no direcionamento do tratamento com antibióticos para pacientes com câncer. Os resultados desta análise sugerem que, entre pacientes com câncer e infecção respiratória ou sepse suspeita ou comprovada, o uso de PCT para orientar decisões de antibióticos é eficiente, com reduções na exposição a antibióticos, e seguro, com possíveis efeitos positivos na mortalidade, particularmente em pacientes mais jovens”, concluem os autores.
O estudo tem como primeira autora a pesquisadora Claudia Gregoriano (Kantonsspital Aarau Tellstrasse, Suiça) e além de Carolina Oliveira e Vandack Nobre, da UFMG, conta com participação de Yannick Wirz, Ashley Heinsalo, Djilali Annane, Konrad Reinhart, Lila Bouadma, Mirjam Christ-Crain, Kristina B. Kristoffersen, Pierre Damas, Yahya Shehabi, Daiana Stolz, Alessia Verduri, Beat Mueller e Philipp Schuetz, que assina como autor correspondente.
Referência:
Gregoriano, C., Wirz, Y., Heinsalo, A. et al. Procalcitonin-guided antibiotic treatment in patients with cancer: a patient-level meta-analysis from randomized controlled trials. BMC Cancer 24, 1467 (2024). https://doi.org/10.1186/s12885-024-13160-2