Ana Ribeiro (foto), docente da UNB e pesquisadora do Centro de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em Brasília, é primeira autora de artigo publicado no periódico Cancer Research Prevention, da American Association for Cancer Research (AACR), que discute estratégias para melhorar a eficácia do rastreamento do câncer do colo do útero no país após a pandemia de COVID-19, considerando múltiplas estratégias viáveis para a realidade de cada comunidade.
A eliminação do câncer do colo do útero é uma meta da Organização Mundial da Saúde, que incentiva os países a considerar a introdução ou melhoria dos programas de rastreamento da doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil está entre os maiores sistemas públicos de saúde do mundo, oferecendo exames citológicos gratuitos, colposcopia de acompanhamento e tratamento. “Ainda assim, as redes de atenção à saúde em todo o país têm infraestrutura, recursos humanos, equipamentos e suprimentos desiguais, resultando em desempenho desigual do programa e grandes disparidades na incidência e mortalidade por câncer cervical. Um programa de rastreamento eficaz precisa de múltiplas estratégias viáveis para a realidade de cada comunidade, facilitando a cobertura e a adesão ao acompanhamento”, avaliam os autores, acrescentando que priorizar mulheres com maior risco com testes que melhor estratificam o risco limitará as ineficiências, melhorando o impacto do programa em diferentes configurações de recursos. “O teste altamente sensível do Papilomavírus humano (HPV) - DNA tem um desempenho melhor do que a citologia e, com a coleta automática mais perto de casas e locais de trabalho, melhora o acesso, mesmo em regiões remotas”, observam.
O artigo destaca ainda as estratégias de autocoleta com triagem molecular, como a genotipagem do HPV, que podem identificar na mesma amostra coletada aquelas mulheres com maior risco, podendo exigir um tratamento imediato com ablação em áreas de baixo recursos. “Se comprovadas como aceitáveis, acessíveis, econômicas e eficientes no contexto brasileiro, essas estratégias aumentariam a cobertura, eliminando a necessidade de exames com espéculo para triagem de rotina e reduzindo as visitas de acompanhamento”, sugere a publicação.
“O SUS poderia implementar um programa nacional organizado que acomodasse ambientes heterogêneos em todo o Brasil, informando uma variedade de programas de rastreamento em todo o mundo”, concluem.
Referência: Rethinking Cervical Cancer Screening in Brazil Post COVID-19: A Global Opportunity to Adopt Higher Impact Strategies Ana Ribeiro, Flávia Corrêa, Arn Migowski, Aline Leal, Sandro Martins, Tainá Raiol, Carla P. Marques, Katia L. Torres, Akiva P. Novetsky, Jenna Z. Marcus, Nicolas Wentzensen, Mark Schiffman, Ana Cecilia Rodriguez and Julia C. Gage - Cancer Prev Res October 1 2021 (14) (10) 919-926; DOI: 10.1158/1940-6207.CAPR-21-0110