Meta-análise brasileira publicada no periódico BMC Cancer considerou dados de 50.402 pacientes para avaliar a associação entre o uso de antipsicóticos e o risco de incidência de tumores ginecológicos. O trabalho tem como primeiro autor o pesquisador Francisco Cezar Aquino de Moraes (foto), da Universidade Federal do Pará.

“Os antipsicóticos são frequentemente usados ​​em transtornos psiquiátricos, incluindo esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão. Estima-se que a prescrição destes medicamentos esteja associada a 1.800 mortes por ano nos Estados Unidos, mas a sua associação com o câncer permanece controversa”, afirmaram os autores.

Foram pesquisadas nas bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science estudos que relatassem a correlação no risco de incidência de câncer ginecológico pelo uso de antipsicóticos. Modelos de efeito aleatório DerSimonian e Laird foram utilizados para calcular a razão de chances (OR) transformada logit para o endpoint binário primário com intervalo de confiança (IC) de 95%. A heterogeneidade foi avaliada através da largura do tamanho do efeito juntamente com estatísticas I-quadrado e Tau-quadrado. O Review Manager 5.4.1 foi usado para análises estatísticas, e um valor p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

A análise incluiu 50.402 pacientes, dos quais 778 (1,54%) faziam uso de medicação antipsicótica há pelo menos 1 ano. 1.086 (2,15%) com câncer de ovário e 49.316 (97,85%) com câncer de endométrio. Uso de antipsicóticos (OR 1,50; 1,06 a 2,13 95% CI; valor p 0,02), hipertensão (OR 1,50; 95% CI 1,06 a 2,13; valor p < 0,01), nuliparidade (OR 1,98; 95% CI 1,53 a 2,57; valor de p < 0,01) e multiparidade (OR 0,53; IC 95% 0,41 a 0,69; valor de p < 0,01) mostraram distribuições significativamente diferentes entre grupos de pacientes com câncer e livres de câncer.

O endpoint primário de risco de incidência de câncer ginecológico por terapia antipsicótica mostrou diferença estatisticamente significativa (OR 1,67; 95% CI 1,02 a 2,73; valor de p < 0,05) em relação ao uso de medicamentos antipsicóticos.

“Nossa meta-análise mostrou que o uso de medicamentos antipsicóticos aumenta o risco de câncer ginecológico, principalmente câncer endometrial. Este resultado deve ser ponderado em relação aos efeitos potenciais do tratamento para uma decisão de prescrição equilibrada”, concluíram os autores.

Além de Moraes, o trabalho contou com a participação dos pesquisadores Renan Yuji Ura Sudo (Universidade Federal de Grande Dourados); Maria Eduarda Cavalcanti Souza (Universidade de Pernambuco); e Marianne Rodrigues Fernandes e Ney Pereira Carneiro Dos Santos (Universidade Federal do Pará).

Referência:

de Moraes, F.C.A., Sudo, R.Y.U., Souza, M.E.C. et al. The incidence risk of gynecological cancer by antipsychotic use: a meta-analysis of 50,402 patients. BMC Cancer 24, 712 (2024). https://doi.org/10.1186/s12885-024-12481-6