Quais pacientes com rabdomiossarcoma (RMS) precisam de radioterapia? Estudo publicado no JCO ajuda a orientar os médicos quanto às indicações de radioterapia e doses apropriadas de radiação em pacientes com RMS localizado.
A radioterapia (RT) é uma das modalidades de controle local em pacientes com rabdomiossarcoma (RMS), mas está associada a toxicidades agudas e tardias graves.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram grandes estudos multicêntricos cooperativos para comparar as indicações, doses e métodos de aplicação da radioterapia (RT) e sua influência no prognóstico de pacientes com rabdomiossarcoma localizado (RMS).
Foram inscritos 1470 pacientes (≤21 anos) com RMS localizado inscritos nos estudos CWS-96, CWS-2002P* e no registro SoTiSaR. A mediana de acompanhamento foi de 6,5 anos (IQR, 3,3-9,5).
A sobrevida livre de eventos (SLE) em 5 anos e a sobrevida de controle local (SCL) para 910 (62%) pacientes irradiados versus não irradiados foram de 71% versus 69% e de 78% versus 73% (P = 0,03), respectivamente. Noventa e cinco por cento dos pacientes tratados pelo IRS** I (90% de RMS embrionário [eRMS]) não foram irradiados (SLE, 87%). Os pacientes irradiados com IRS II tiveram melhor SCL (91% versus 80%; P = 0,01) e melhor SLE (não significativo).
No IRS III, tanto SLE quanto SCL foram significativamente melhores para os pacientes em RT: 71% versus 56% (P = 3,1e-06) e 76% versus 61% (P = 4,1e-07). Pacientes com tumores na região de cabeça e pescoço (órbita, parameníngeos e não parameníngeos) e em outros locais tiveram SLE e SCL significativamente melhores, assim como melhor sobrevida global (SG).
A eficácia de doses baixas de RT de 32 Gy (RT hiperfracionado e acelerado [HART]) e 36 e 41,4 Gy (RT fracionado convencional [CFRT]) nos grupos favoráveis e doses mais altas de 44,8 Gy (HART) e 50,4 e 55,4 Gy (CFRT) nos grupos desfavoráveis foi comparável. A RT de prótons foi usada predominantemente em tumores parameníngeos de cabeça/pescoço (HN-PM), com SLE e SCL semelhantes à RT de fótons.
A conclusão dos autores indica que a RT pode ser omitida em pacientes com IRS I e doença embrionária (eRMS). Por outro lado, Koscielniak e colegas destacam que a RT melhora a sobrevida livre de eventos e o controle local em RS II e III. A RT melhora a sobrevida global em pacientes com RMS na localização cabeça e pescoço/parameningeas, sendo a RT de prótons comparável à RT de fótons. Doses de 32 Gy (HART) ou 36 e 41,4 Gy (CFRT) tiveram eficácia comparável em pacientes com perfis de risco favoráveis e 44,8 Gy (HART) ou 50,4 e 55,8 Gy (CFRT) nos grupos desfavoráveis.
Os dados deste estudo apontam que a RT melhora o prognóstico na maioria dos pacientes com rabdomiossarcoma localizado. A indicação e a estratificação da dose com base no estado do tumor após ressecção primária ou secundária (tardia), no subtipo histológico e na resposta do tumor permitiram a seleção de pacientes que se beneficiam da RT e a adaptação da dose ao perfil de risco do paciente. Na análise de Koscielniak et al., a RT desempenha papel crucial na sobrevida de pacientes com RMS de cabeça e pescoço, demonstrando que uma pequena proporção de pacientes não irradiados com indicação de RT de acordo com os padrões atuais sobreviveu sem recidiva, o que destaca a necessidade de sistemas de estratificação aprimorados.
* CWS - Cooperative Weichteilsarkomstudiengruppe
** IRS - Sistema Imaging Ring
Referência: DOI: 10.1200/JCO.22.02673 Journal of Clinical Oncology. Published online September 19, 2023.