A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) lançou o movimento #mamografiaapartirdos40 – Direito e dever de toda mulher. A ação faz parte da campanha ‘Eu amo meus peitos’, criada pela entidade para incentivar os cuidados com a saúde da mama e disseminar informações sobre a prevenção do câncer. A ideia é enfatizar a importância de realizar a mamografia a partir dos 40 anos, anualmente.
A iniciativa também pode ser considerada uma resposta à Portaria 1.253/2013, emitida pelo Ministério da Saúde em novembro do ano passado, que restringiu o repasse de verbas da União aos municípios para mamografias apenas em pacientes na idade entre os 50 e 69 anos, o que contraria a lei nº 11.664, de 2008, que determina que o SUS deve assegurar “a realização de exame mamográfico a todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade”.
Segundo a portaria, apenas os procedimentos de mamografia bilateral em mulheres na faixa dos 50 aos 69 anos serão pagos pelo Fundo de Ações Estratégicas e Compensações (FAEC). As demais faixas serão cobertas por recursos do “Teto da Média e Alta Complexidade (MAC)”.
Além do alteração na forma do pagamento, contribuiu com a polêmica o fato da portaria ter instituído a mamografia unilateral – exame realizado como forma de rastreamento em apenas uma das mamas – o que despertou a ira das sociedades médicas, que alegam que não há como selecionar apenas uma mama para exame, já que a lesão procurada nem sempre é palpável. Além disso, um dos preceitos básicos da mamografia é a comparação entre as duas mamas. “A mamografia unilateral foi um equívoco do Ministério da Saúde. Vai escolher uma mama para fazer? Não. Quem vai fazer mamografia unilateral é a paciente mastectomizada, que só tem uma mama. Mas isso já não é rastreamento, a paciente já teve um câncer. Mamografia unilateral é para casos específicos. Esse erro já foi corrigido”, explica o mastologista José Luiz Esteves, Presidente da Comissão de Imagem da SBM. Realmente, segundo o Ministério, o texto já foi alterado para deixar claro que a mamografia bilateral é a regra e a unilateral, aplicada em alguns casos.
O impasse da idade ideal
A SBM defende a realização da mamografia a partir dos 40 anos, já que alguns estudos apontam a redução da mortalidade do câncer de mama em até 35%, além de, através do diagnóstico precoce, as chances de curar poderem chegar a 95% dos casos. “Tanto a experiência do consultório quanto os inúmeros estudos e acompanhamentos realizados pelos principais mastologistas do Brasil e do exterior comprovam que a idade ideal para o início do trabalho preventivo, via mamografia, é 40 anos”, afirma o presidente da SBM, Ruffo de Freitas Júnior.
Em sua defesa, o Ministério da Saúde alega que segue a determinação de vários outros países, que indicam a mamografia de rastreamento a partir dos 50 anos, idade com maior prevalência da doença. Além disso, nessa idade a mama se torna menos densa, facilitando a visualização de um nódulo ou tumor. O fato é que no Brasil, vários fatores como estilo de vida, alimentação e genética contribuem para a manifestação da doença cada vez mais cedo. Nossa população tem um número maior de casos de câncer de mama entre 40 e 50 anos de idade se comparado aos países desenvolvidos. “Por isso insistimos na mamografia aos 40 anos. No Brasil, a porcentagem de mulheres com câncer de mama abaixo dos 50 anos é 25% a 30%. Nos EUA esse índice gira em torno de 15%”, afirma Esteves.
Além disso, o mastologista afirma que o diagnóstico precoce melhora a sobrevida da paciente, aumenta a chance de cura e pode ter um impacto econômico, social e emocional. “Você pode propor tratamentos mais baratos, menos agressivos. É diferente o diagnóstico de um tumor com 1cm de outro com 5cm. A cirurgia é mais barata, os danos estéticos e psicológicos são menores. E você aumenta a chance de cura dessa paciente”.
O presidente da SBM endossa a opinião de Esteves, e incentiva a classe médica a continuar solicitando a mamografia de rastreamento a partir dos 40 anos e não aceitar a mamografia unilateral. “Como especialistas, temos a responsabilidade de educar e informar à sociedade sobre os procedimentos mais corretos e seguros em prol da saúde preventiva. E a mamografia é um instrumento de extrema importância, tendo reflexo na redução de cirurgias mutiladoras (mastectomias), diminuição de sofrimento e melhor qualidade de vida da paciente após o câncer”, conclui Ruffo.
Contrassenso
O câncer de mama é o segundo tipo mais comum em número de casos no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2014 são esperados no Brasil 57.120 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres.
Enquanto o Ministério defende a mamografia bianual a partir dos 50 anos de idade, o representante do Governo Federal responsável pela Política Nacional de Atenção Oncológica afirma no documento ‘Estimativas de Incidência de Câncer no Brasil – 2014’, que “apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico, se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados”. Vai entender.
Como participar
Para aderir a causa, basta que as pessoas publiquem em suas redes uma foto com a plaquinha aderindo ao movimento #mamografiaapartirdos40, compartilhando com os amigos e contribuindo com a disseminação da informação.