Estudo apresentado no ESMO Breast Cancer Virtual Meeting 2020 analisou o impacto do índice de massa corporal em pacientes com câncer de mama metastático HR+, HER2- negativo tratadas com abemaciclibe e hormonioterapia em comparação com hormonioterapia + placebo. A oncologista Maria Alice Franzoi (foto), fellow do Institut Jules Bordet, Bélgica, é a primeira autora do trabalho.
“Este é o primeiro trabalho com um grande número de pacientes analisando este importante aspecto, uma vez que mais de 50% das pacientes incluídas no estudo apresentavam sobrepeso ou obesidade”, destaca Maria Alice.
Existem dados limitados sobre o papel do sobrepeso e da obesidade no câncer de mama avançado, uma vez que estudos anteriores se concentraram principalmente no cenário da doença inicial.
A combinação de inibidores de CDK 4/6 com hormonioterapia é o padrão de tratamento do câncer de mama metastático receptor hormonal positivo, HER2-negativo. Além da regulação do ciclo celular, as CDK 4 e 6 estão envolvidas em importantes processos metabólicos, como adipogênese, gliconeogênese e metabolismo muscular.
No estudo, os pesquisadores investigaram o possível impacto do sobrepeso e da obesidade na sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta (RR) e incidência de eventos adversos em pacientes que receberam abemaciclibe + hormonioterapia vs. hormonioterapia + placebo..
O trabalho foi uma análise post-hoc, agrupada de dados de pacientes individuais incluídas nos ensaios MONARCH2 e MONARCH3, que investigaram o uso de abemaciclibe + hormonioterapia em pacientes com câncer de mama metastático, receptor hormonal positivo, HER2-negativo.
As pacientes foram classificadas de acordo com o IMC no baseline como baixo peso (<18,5 kg/m2), peso normal (18,5-24,9 kg/m2), sobrepeso (25-29,9 kg/m2) e obesas (≥30 kg/m2), e divididas em dois grupos de tratamento: abemacicilibe + hormonioterapia vs. placebo + hormonioterapia
Os endpoints primários foram a avaliação da associação entre IMC e sobrevida livre de progressão em cada grupo de tratamento. Endpoints secundários incluíram análise da taxa de resposta e a incidência de eventos adversos de acordo com o IMC, bem como a perda de peso (≥5% a partir do baseline) durante o tratamento; além do impacto do uso concomitante de metformina e/ou estatinas nos resultados clínicos.
Resultados
Foram incluídas 1138 pacientes (757 no braço abemaciclibe + TE e 381 no braço placebo + braço TE). Entre as pacientes, 54% estavam na faixa de sobrepeso e obesidade, com variação significativa da prevalência de acordo com a etnia, região geográfica, idade, comorbidades, status menopausal e performance status (p <0,05 para todos).
As pacientes com IMC normal apresentaram maior taxa de resposta no braço de abemaciclibe em comparação aquelas com sobrepeso e/ou obesidade. Não houve diferença na sobrevida livre de progressão entre as categorias de IMC em ambos os braços, embora as pacientes obesas apresentassem uma magnitude menor de benefício (numérica) com a combinação de abemaciclibe e hormonioterapiaem comparação com as pacientes com peso normal.
Pacientes obesas apresentaram menos neutropenia quando tratadas com abemaciclibe. A perda de peso foi três vezes mais freqüente no grupo de abemaciclibe, e não foi relacionada à diarreia. Os dados também demonstraram que o uso concomitante de metformina ou estatinas não afetou os resultados clínicos em nenhum dos grupos de tratamento.
“O estudo demonstrou que o sobrepeso/obesidade é bastante prevalente entre pacientes com câncer de mama metastático (54,5% nesta análise), e a adição de abemaciclibe à hormonioterapiaaumenta a sobrevida livre de progressão independentemente do IMC, mostrando que pacientes com sobrepeso/obesidade também se beneficiam desse regime”, avaliaram os autores.
Os pesquisadores ressaltam que pacientes obesos apresentaram menor magnitude de benefício em termos de sobrevidade livre de progressão, taxas de resposta inferiores e menores taxas de neutropenia quando tratados com abemaciclibe quando comparados a pacientes com peso normal, questionando a intensidade ideal da dose nessa população de pacientes. ““Verificamos que este tratamento é efetivo também para pacientes com sobrepeso e obesidade, apesar de parecer haver um maior efeito desta combinação para pacientes de baixo peso ou peso normal, uma vez que encontramos maior taxas de resposta neste último grupo de pacientes”, observa Maria Alice.
“Adicionalmente, encontramos como efeito colateral a perda de peso (definido como >5% do peso no baseline), que foi três vezes mais comum nas pacientes que usaram a combinação de abemaciclibe + hormonioterapia comparado com as mulheres tratadas com hormonioterapia + placebo. Este é um achado importante já que a perda de peso pode ser interpretada por pacientes e oncologistas como sinais de progressão da doença ao tratamento, e nesse caso pode estar relacionada a um possível efeito do abemaciclibe na redução da massa gorda, conforme descrito anteriormente em modelos de camundongos”, conclui.
Referência: Clinical Implications of Body Mass Index and Weight Changes in Metastatic Breast Cancer Patients Treated with Abemaciclib and Endocrine Therapy: a Combined Individual Patient-Level Data Analysis of MONARCH 2 and MONARCH 3 Trials - Maria Alice Franzoi, Daniel Eiger, Lieveke Ameye, Noam Pondé, Claudia De Angelis, Rafael Caparica, Mariana Brandão, Nuria Kotecki, Marianne Paesmans, Matteo Lambertini, Serena Di Cosimo, Christine Desmedt, Ahmad Awada, Martine Piccart-Gebhart, Evandro de Azambuja