Revisão sistemática e meta-análise buscou avaliar a sobrevida e a função pulmonar após ressecção sublobar em comparação com a lobectomia no câncer de pulmão de células não pequenas estágio IA. “Até onde sabemos, este estudo é o primeiro a destacar especificamente a comparação de diferentes desenhos de estudo neste contexto”, afirmaram os autores. Os resultados foram publicados no Journal of Surgical Oncology. Isadora Mamede, da Universidade Federal de São João Del-Rei, é primeira autora do artigo, que tem o cirurgião torácico Marcelo Cypel, da Universidade de Toronto, como autor sênior.
No tratamento do câncer de pulmão em estágio inicial, a lobectomia tem sido a abordagem preferida há mais de três décadas. Os avanços na imagem e no estadiamento expandiram as ressecções limitadas para o câncer de pulmão em estágio inicial. Contudo, até 2022, os resultados de estudos observacionais anteriores e meta-análises anteriores eram contraditórios, e se alinhavam com uma escassez de ensaios clínicos randomizados. Nesse contexto, ensaios recentes, em destaque CALGB 140503 e JCOG0802/WJOG4607L, comparando ressecções limitadas à lobectomia no CPCNP estágio clínico IA concluíram que a ressecção sublobar (cunha ou segmentectomia) é não inferior em sobrevida.
Essa metanálise incluiu 30 estudos, entre eles 4 estudos randomizados controlados, para avaliar a eficácia da ressecção sublobar. O trabalho considera uma variedade de desenhos de estudo e realiza subanálises para compará-los, como foco principal em desfechos relevantes, incluindo a sobrevida.
Empregando um modelo de efeitos aleatórios e estatísticas I2 para heterogeneidade, os pesquisadores demonstraram que a ressecção sublobar reduziu a sobrevida livre de doença (HR 1,31, p<0,01) e a sobrevida global (HR 1,27, p<0,01) em geral.
No entanto, a análise de subgrupos de ensaios clínicos randomizados não mostrou diferenças significativas na SLD (p=0,28) ou na SG (p=0,62), enfatizando a necessidade de ECRs bem conduzidos.
Para tumores ≤ 2 cm em todos os tipos de estudo, a ressecção sublobar corresponde à lobectomia nos resultados de sobrevida. Além disso, a ressecção sublobar, incluindo segmentectomia e ressecção em cunha, preserva melhor a função pulmonar pós-operatória, beneficiando pacientes com reserva pulmonar limitada.
Embora os achados não mudem imediatamente a prática clínica, eles posicionam a ressecção sublobar, especialmente a segmentectomia, como uma opção cirúrgica viável para tumores em estágio IA1-2. Mais estudos, particularmente ensaios clínicos randomizados em larga escala, são cruciais para comparar a ressecção em cunha e a segmentectomia anatômica e para determinar a melhor abordagem para tumores com tamanho entre 2-3 cm.
“O manejo do câncer de pulmão em estágio inicial está evoluindo com novos insights sobre a eficácia das ressecções sublobares. Embora historicamente a lobectomia tenha sido o padrão ouro, evidências recentes sugerem que, para tumores ≤ 2 cm, as ressecções sublobares, particularmente a segmentectomia, oferecem resultados de sobrevivência comparáveis à lobectomia e melhor preservação da função pulmonar pós-operatória”, conclui Isadora.
Além de Isadora e Marcelo, o estudo tem participação dos pesquisadores Leonardo Ribeiro (PUC-SP), Carlos Stecca (Hospital Universitário Evangélico Mackenzie – Curitiba), e Lorena Escalante-Romero (Universidade Federal de São Paulo).
Referência:
Mamede I, Ribeiro L, Stecca C, Escalante-Romero L, Cypel M. Survival and pulmonary function in stage IA non-small cell lung cancer after sublobar resection versus lobectomy: An updated meta-analysis. J Surg Oncol. 2024 Jul 9. doi: 10.1002/jso.27767. Epub ahead of print. PMID: 38979906.