Onconews - Status HER2-low e resposta à quimioterapia neoadjuvante no câncer de mama inicial HER2-negativo

luciana moura leite bxEstudo publicado no periódico Breast Cancer Research and Treatment buscou avaliar o impacto do status HER2-low na resposta à quimioterapia neoadjuvante e nos resultados de sobrevida em pacientes com câncer de mama HER2-negativo em estágio inicial. A oncologista Luciana de Moura Leite (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, é a primeira autora do trabalho.

“O conhecimento sobre se as baixas expressões de HER2 têm impacto prognóstico no câncer de mama em estágio inicial, e sua resposta aos atuais protocolos de quimioterapia pode contribuir para a prática médica e desenvolvimento de novos fármacos para este subgrupo de pacientes, mudando paradigmas de tratamento”, observam os autores.

Neste estudo, foram revisados ​​retrospectivamente os registros de todos os pacientes com câncer de mama tratados com quimioterapia adjuvante (NACT) entre janeiro de 2007 e dezembro de 2018 no A.C.Camargo Cancer Center. Foram incluídos pacientes HER2-negativo (imunohistoquímica [IHC] 0, +1 ou +2 não amplificados por hibridização in situ [ISH]). HER2-low foi definido por IHC +1 ou +2 ISH não amplificado e HER2-0 por IHC 0.

Os objetivos coprimários foram comparar a resposta patológica completa (pCR) e a sobrevida livre de recidiva (RFS) entre as populações luminal/HER2-low versus luminal/HER2-0 e entre pacientes triplo negativo (TNBC)/HER2-low versus TNBC/HER2-0.

Resultados

No total, foram identificados 855 pacientes HER2-negativo. O acompanhamento médio foi de 59 meses. 542 pacientes tinham subtipo luminal (63,4%) e 313 câncer de mama triplo-negativo (36,6%). 285 pacientes (33,3%) eram HER2-low.

Entre os pacientes luminais, 145 apresentavam HER2 IHC +1 (26,8%) e 91 tinham IHC +2/ISH não amplificado (16,8%). No gruo de pacientes com câncer de mama triplo-negativo, 36 tinham HER2 IHC +1 (11,5%) e 13 IHC +2/ISH não amplificado (4,2%). A maioria dos pacientes apresentava tumores localmente avançados, independentemente do subtipo ou do status HER2-low.

Para a doença luminal, a resposta patológica completa (pCR) foi alcançada em 13% dos tumores HER2-low versus 9,5% dos tumores HER2-0 (p = 0,27). Da mesma forma, não houve diferença nas taxas de pCR entre tumores triplo-negativo: 51% versus 47% em HER2-low versus HER2-0, respectivamente (p = 0,64). HER2-low também não foi prognóstico para a sobrevida livre de recidiva (RFS), com taxas de RFS em 5 anos de 72,1% versus 71,7% (p = 0,47) para HER2-low / HER2-0 luminal, respectivamente, e 75,6% versus 70,8% (p = 0,23) para TNBC HER2-low / HER2-0.

“Nossos dados não apoiam HER2-low como um subtipo de câncer de mama biologicamente distinto, sem valor prognóstico nos resultados de sobrevida e sem efeito preditivo para resposta patológica completa após a quimioterapia neoadjuvante tradicional”, avaliam os autores.

“Vale ressaltar que apesar do status do HER2-low não ter tido impacto prognóstico/preditivo de resposta patológica completa (pCR) em pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia neoadjuvante, a incorporação de novas drogas neste cenário, como o trastuzumabe deruxtecan, pode ser benéfica para melhorar taxas de pCR, especialmente no subgrupo de pacientes com receptor hormonal positivo, que compreende a população com maior proporção de HER2-low e que apresentam baixas taxas de pCR quando tratadas com quimioterapia convencional”, concluem.

Referência: de Moura Leite, L., Cesca, M.G., Tavares, M.C. et al. HER2-low status and response to neoadjuvant chemotherapy in HER2 negative early breast cancer. Breast Cancer Res Treat (2021). https://doi.org/10.1007/s10549-021-06365-7