O câncer de próstata é a segunda principal causa de câncer em homens e apenas uma classe de quimioterapia baseada em taxanos é eficaz contra a doença. Estudo publicado no dia 15 de fevereiro na revista Clinical Cancer Research mostra que alguns pacientes de câncer de próstata podem ter resposta superior ao agente cabazitaxel em relação ao docetaxel, apesar de serem ambos taxanos.
Os pesquisadores também descobriram um marcador genômico com potencial de selecionar quais pacientes podem se beneficiar mais do cabazitaxel. O oncologista clínico Gilberto Lopes, diretor de oncologia do HCor Onco e diretor científico da Oncoclí́nicas,comenta com exclusividade para o Onconews.
Durante anos, o docetaxel foi a única quimioterapia eficaz para o câncer de próstata resistente à castração. A próxima geração de drogas na família dos taxanos foi inaugurada com a chegada de cabazitaxel, aprovado em 2010 pelo FDA para os pacientes refratários à terapia hormonal ou ao tratamento com docetaxel.
Karen Knudsen e colegas, do Sidney Kimmel Cancer Center e da Universidade Thomas Jefferson,mostraram que cabazitaxel funcionou melhor do que o docetaxel em linhagens de pacientes resistentes ao tratamento hormonal. A análise dos genes tumorais afetados pelas duas drogas revelou que cabazitaxel teve um efeito maior sobre a divisão celular e a regulação da cromatina - um carretel de DNA que ajuda a controlar quais genes estão em uso e quando - ao passo que docetaxel teve um impacto maior sobre a transcrição e o reparo do DNA. “No laboratório, o cabazitaxel pareceu ter mais efeitos citotóxicos e citostáticos que o docetaxel e com um mecanismo de ação diferente. Esta pode ser uma explicação para entender porque o cabazitaxel, mesmo sendo um taxano como o docetaxel, tem atividade em pacientes nos quais o último parou de funcionar e sugere a possibilidade de que a nova geração seja mais efetiva”, diz Lopes, do grupo Oncoclínicas.
Cabazitaxel e docetaxel foram comparados através de modelos in vitro e em tumores de xenotransplante. Os dados demonstraram que cabazitaxel exerceu resposta citostática e citotóxica superior ao docetaxel, especialmente em tumores que progrediram para a resistência à castração através da perda do gene supressor do retinoblastoma.
Em conclusão, o cabazitaxel não só apresentou melhor efeito citostático e citotóxico, como também demonstrou afetar vias moleculares distintas, em comparação com o docetaxel. Finalmente, a equipe de pesquisa colaborativa também encontrou no gene do retinoblastoma (RB) o primeiro biomarcador com potencial para definir resposta terapêutica para os taxanos em câncer de próstata metastático resistente a castração e identificar pacientes com maior probabilidade de se beneficiar do tratamento com cabazitaxel. "Este gene poderia nos dar uma maneira de selecionar os pacientes com potencial de se beneficiar de cabazitaxel mais cedo no curso do tratamento e reduzir a tentativa e erro no percurso terapêutico do câncer de próstata", acrescentou a pesquisadora líder da investigação.
As hipóteses do grupo de Knudsen e colegas estão sendo testadas em um estudo clínico de fase II (ABICABAZI NCT02218606), financiado pela Sanofi e conduzido em colaboração entre o Sidney Kimmel Cancer Center e o Memorial Sloan Kettering-Cancer Center.
Para Lopes, o estudo pré-clinico é muito interessante como gerador das hipóteses que serão validadas ou não pelo estudo FIRSTANA, com conclusão esperada para 2015. O trabalho compara as duas drogas em pacientes com câncer de próstata resistente à castração e que não receberam quimioterapia anteriormente. “Mais interessante é a sugestão de que aqueles tumores que progrediram com resistência à castração por causa da perda de função do gene RB talvez sejam mais sensíveis ao tratamento com taxanos, potencialmente levando ao desenvolvimento do primeiro biomarcador que nos permita selecionar quais pacientes se beneficiam mais do uso de docetaxel e cabazitaxel”, finaliza o especialista brasileiro.
Referência: Novel Actions of Next-Generation Taxanes Benefit Advanced Stages of Prostate Cancer
Renée de Leeuw, Lisa D. Berman-Booty, Matthew J. Schiewer,Stephen J. Ciment, Robert B. Den, Adam P. Dicker, William K. Kelly,Edouard J. Trabulsi, Costas D. Lallas, Leonard G. Gomella e Karen E. Knudsen
Clin Cancer Res February 15, 2015 21:795-807; doi:10.1158/1078-0432.CCR-14-1358
http://clincancerres.aacrjournals.org/content/21/4/795.abstract?sid=aec62b29-85be-48f3-b3d4-bf4815845eee