O ensaio NeoRes II é o primeiro ensaio randomizado a comparar o tempo padrão com o tempo prolongado para a cirurgia após quimiorradioterapia neoadjuvante para câncer de esôfago. Os resultados foram publicados por Nilsson et al. no Annals of Oncology e mostram forte tendência para pior sobrevida global após o atraso até a cirurgia, sugerindo cautela no adiamento rotineiro da intervenção cirúrgica.
O momento ideal para a cirurgia após quimiorradioterapia neoadjuvante (nCRT) para câncer de esôfago é desconhecido e tem sido tradicionalmente de 4 a 6 semanas na prática clínica. Estudos observacionais sugeriram melhores resultados com atraso prolongado de até três meses após a nCRT, especialmente em termos de resposta histológica.
Para comparar os resultados dos dois tempos cirúrgicos, este ensaio clínico inscreveu pacientes com câncer de esôfago localmente avançado e ressecável, randomizados para a cirurgia padrão de 4 a 6 semanas após nCRT ou cirurgia adiada de 10 a12 semanas após nCRT. O endpoint primário foi a resposta histológica completa do tumor primário em pacientes com adenocarcinoma. Os endpoints secundários incluíram resposta histológica do tumor, margens de ressecção, sobrevida global e livre de progressão em todos os pacientes e estratificados por tipo histológico.
Entre fevereiro de 2015 e março de 2019, foram randomizados 249 pacientes de dez centros participantes na Suécia, Noruega e Alemanha para receber cirurgia no tempo padrão (n=125) e para o atraso prolongado até a cirurgia (n= 124). Os autores descrevem que não houve diferença significativa na resposta histológica completa entre pacientes com adenocarcinoma que receberam tratamento padrão (21%) em comparação com aqueles que receberam cirurgia em tempo prolongado (26%); (P = 0,429). A regressão tumoral, margens de ressecção, número de linfonodos ressecados totais e metastáticos não diferiram entre as intervenções.
A sobrevida global do primeiro quartil em pacientes randomizados para o tempo padrão até a cirurgia foi de 26,5 meses em comparação com 14,2 meses após um tempo prolongado até a cirurgia (P = 0,003) e o risco geral de morte durante o acompanhamento foi 35% maior após atraso prolongado (razão de risco 1,35), IC 95%: 0,94-1,95, P=0,107).
“Neste estudo, o primeiro ensaio randomizado que abordou o momento da cirurgia após nCRT para câncer de esôfago, o tempo prolongado até a cirurgia de 10 a 12 semanas após o término da nCRT não foi associado a uma melhor resposta histológica do tumor ou a qualquer outra melhora nos desfechos patológicos, em comparação com o tempo padrão de 4-6 semanas para a cirurgia”, concluem os autores.
A análise também destaca que pacientes que tiveram atraso prolongado da cirurgia tiveram pior sobrevida global no primeiro quartil, embora sem significância estatística durante todo o período do estudo. No subgrupo de não respondedores histológicos (TRG 4), Nilsson e colegas mostram que os pacientes expostos a tempo prolongado até a cirurgia tiveram sobrevida global 2,5 vezes pior em comparação com aqueles que receberam a cirurgia no tempo padrão.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Nilsson K, Klevebro F, Sunde B, Rouvelas I, Lindblad M, Szabo E, Halldestam I, Smedh U, Wallner B, Johansson J, Johnsen G, Aahlin EK, Johannessen HO, Alexandersson von Döbeln G, Hjortland GO, Wang N, Shang Y, Borg D, Quaas A, Bartella I, Bruns C, Schröder W, Nilsson M. Oncological outcomes of standard versus prolonged time to surgery after neoadjuvant chemoradiotherapy for oesophageal cancer in the multicentre randomised controlled NeoRes II trial. Ann Oncol. 2023 Aug 30:S0923-7534(23)00825-6. doi: 10.1016/j.annonc.2023.08.010. Epub ahead of print. PMID: 37657554.