Estudo de pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da FIOCRUZ demonstra que as células CAR-T podem ser geradas com uma manipulação rápida em laboratório sem necessidade de cultivo. Os resultados do trabalho de mestrado da bióloga Luiza Abdo estão em artigo publicado no periódico OncoImmunology, que tem como autor sênior o biomédico Martín Bonamino (foto).
Recentemente aprovada pelo FDA e pela Agência Europeia de Medicamentos, a terapia de células CAR-T é uma nova opção de tratamento para doenças malignas de células B. Atualmente, as células CAR-T são fabricadas em instalações centralizadas e enfrentam desafios para expandir sua escala de produção, diminuir os custos de tratamento e ampliar a sua oferta. Essas dificuldades estão relacionadas principalmente ao uso de vetores virais e à exigência de expansão das células CAR-T para atingir a dose terapêutica.
Nesse estudo, os pesquisadores utilizaram a modificação genética mediada por um transposon chamado Sleeping Beauty fornecida por eletroporação para demonstrar que as células CAR-T podem ser geradas e utilizadas sem a necessidade de ativação e expansão ex vivo, consistente com uma abordagem do tipo point of care (POC), ou seja, o preparo imediato no mesmo local de tratamento do paciente.
Os resultados mostram que células CAR-T minimamente manipuladas são eficazes in vivo contra células de leucemia humana RS4; 11 enxertadas em camundongos NSG, mesmo quando inseridas apenas 4h após a transferência de genes. Em um esforço para melhor caracterizar as células CAR-T infundidas, os autores demonstram que os linfócitos T 19BBz infundidos após 24 h de eletroporação (onde a expressão do CAR já é detectável) podem melhorar a sobrevida global e reduzir a carga tumoral nos órgãos de camundongos enxertados com RS4; 11 ou a leucemia de precursores de células B Nalm-6. Uma comparação side-by-side da abordagem POC com um protocolo de expansão convencional de 8 dias usando Transact beads demonstrou que ambas as abordagens têm atividade antitumoral equivalente in vivo no modelo pré-clínico.
“Os dados sugerem que a abordagem POC é uma alternativa viável para a geração e uso de células CAR-T, superando as limitações dos protocolos de fabricação atuais. Seu uso tem o potencial de expandir a imunoterapia com CAR para um número maior de pacientes, principalmente em países de baixa renda”, observam os autores.
Bonamino acrescenta que nesta nova abordagem as células estariam disponíveis para uso em poucas horas, tornando a terapia muito mais barata e acessível e permitindo sua utilização em vários centros médicos. “É um potencial caminho para democratizar o uso desta nova e importante terapia de alta efetividade”, conclui.
Referência: Luiza de Macedo Abdo, Luciana Rodrigues Carvalho Barros, Mariana Saldanha Viegas, Luisa Vieira Codeço Marques, Priscila de Sousa Ferreira, Leonardo Chicaybam & Martín Hernán Bonamino (2020) Development of CAR-T cell therapy for B-ALL using a point-of-care approach, OncoImmunology, 9:1, DOI: 10.1080/2162402X.2020.1752592