Estudo publicado na edição online de 15 de outubro do British Medical Journal (BMJ 349 doi:10.1136/bmj.g6076), liderado por pesquisadores do Imperial College London e do KU Leuven, descreveu um novo modelo de classificação de risco, chamado ADNEX, para discriminar tumores de ovário benignos e malignos, e identificar diferentes tipos de câncer ovariano.
O modelo associa informações clínicas do paciente, análises de sangue do nível sérico do CA-125 e exames de ultrassonografia. Além de identificar o tipo de tumor, o ADNEX expressa percentualmente o grau de confiança do diagnóstico, dizem os autores. “Os dados da ultrassonografia transvaginal dependem do aparelho e da experiência do examinador, o que pode ser determinante para o resultado”, explica a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora do ambulatório de oncologia clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo -ICESP.
O estudo foi apresentado durante o Congresso Mundial da Sociedade Internacional para Ultrassom em Obstetrícia e Ginecologia, realizado em setembro em Barcelona. ADNEX pode ser usado em um banco de dados clínicos ou em um aplicativo de smartphone que permite inserir as informações do paciente.
Desenho do estudo
Foi realizado um estudo prospectivo, multicêntrico, internacional, com um coorte de mulheres com pelo menos uma massa anexial que exigia cirurgia, conforme avaliação de um clínico. O grupo International Ovarian Tumour Analysis (IOTA) coletou dados entre 1999 e 2012. As pacientes foram recrutados a partir de 24 centros em 10 países, sendo doze centros classificados como centros de oncologia, ou seja, centros de referência terciária com uma unidade de ginecologia oncológica específica. Os demais centros incluídos foram hospitais gerais e unidades de ultrassom ginecológico não ligados a um centro de oncologia.
Foram selecionadas quatro variáveis clínicas - idade, nível sérico do CA-125 (U/mL), história familiar de câncer de ovário e tipo de centro (centro de oncologia vs outros hospitais), e seis variáveis de ultrassom - diâmetro máximo da lesão (mm), proporção de tecido sólido (o diâmetro máximo do maior componente sólido dividido pelo diâmetro máximo da lesão), presença de mais do que 10 lóculos císticos, número de projeções papilares, presença de sombras acústicas e presença de ascite.
No total, dados de 6.169 pacientes foram registrados nas bases de dados para as fases 1, 1B, 2, e. Foram excluídas 255 pacientes com base em diferentes critérios de exclusão, sendo utilizados os dados de 5.909 mulheres. A taxa de malignidade observada variou entre 22% e 66% em centros de oncologia e entre 0% e 30% em outros hospitais.
Resultados
O modelo de previsão desenvolvido foi capaz de discriminar entre cinco tipos de tumor anexial (benigno, borderline, câncer estadio I, estádios II-IV, e câncer metastático secundário), além de mostrar excelente capacidade de discriminar entre benigno e todos os tumores malignos. O cut-off anteriormente proposto de 10% de para o risco total de malignidade resultou em 96,5% de sensibilidade e 71,3% de especificidade. O modelo ADNEX teve bom desepenho na diferenciação entre tumores benignos e cada um dos quatro tipos de tumores malignos.
Maria Del Pilar ressalta que apesar da alta sensibilidade (96,5%) a especificidade é relativamente baixa (71,3%) para um grupo de doenças dessa magnitude. “Creio que ele pode ser mais um elemento para a decisão diagnóstica, mas ainda não um dado definitivo. Não me parece que, neste momento, seja capaz de mudar a prática clínica, ainda precisamos de seu uso em mais larga escala”, diz.
A área sob a curva característica de operação do receptor (AUC) para a discriminação clássica entre tumores benignos e malignos foi de 0,94 (0,93 - 0,95) na validação temporal. A AUC foi de 0,85 para benigna versus limítrofe; 0,92 para benigna versus câncer em estágio I; 0,99 para benigna versus câncer em estágio II-IV; e 0,95 para benigna versus metastática secundária.
“Esta nova abordagem para a classificação de risco em tumores de ovário pode ajudar os médicos na tomada de decisões e melhorar os resultados para as mulheres com câncer. Isso pode contribuir para evitar o overtreatment, muitas vezes com impacto sobre a fertilidade”, afirmou Tom Bourne, do Imperial College London.
Para Pilar, é mais um instrumento que pode auxiliar na tomada de decisão se uma lesão ovariana pode ser observada ou necessita de uma intervenção rápida, mas é importante acumular mais conhecimento. “O ideal seria encontrar marcadores com maior especificidade, sem perda da sensibilidade, para o diagnóstico precoce do câncer de ovário”.
O teste ADNEX está disponível online, gratuitamente, e para aplicativos móveis, ao custo de cerca de R$500,00, no endereço www.iotagroup.org/adnexmodel
O estudo foi financiado pelo Flemish Government: Research Foundation – Flanders (FWO), Flanders’ Agency for Innovation by Science and Technology (IWT), iMinds e National Institute for Health Research (NIHR) Imperial Biomedical Research Centre.
Referência: http://www.bmj.com/content/349/bmj.g5920
Ben Van Calster et al. ‘Evaluating the risk of ovarian cancer prior to surgery using the ADNEX risk model: diagnostic study to differentiatebetweenbenign, borderline, stage I invasive, advancedstageinvasive, andsecondarymetastatictumours.’ BMJ 2014;349:g5920 doi: 10.1136/bmj.g5920