Resultados do estudo de fase III TRANS-COG apresentados na Conferência do National Cancer Research Institute (NCRI) mostraram que pacientes com um tipo específico de câncer esofágico sobreviveram mais tempo quando receberam o agente gefitinibe, droga empregada no tratamento contra o câncer de pulmão.
A expressão do EGFR foi encontrada nas células tumorais de até um em cada seis pacientes com câncer esofágico e a administração da droga gefitinibe, que tem como alvo esta falha, impulsionou a sobrevida por até seis meses, e em alguns casos, por período superior.
Este é o primeiro tratamento para o câncer esofágico que demonstrou melhorar a sobrevida em pacientes, após falha da quimioterapia inicial. É também a primeira vez que um tratamento-alvo de qualquer tipo se revelou eficaz nesta doença, embora a quimioterapia e algumas drogas-alvo tenham demonstrado benefício no tratamento de segunda linha de outros cânceres do sistema digestivo, incluindo de estômago. O câncer de esôfago mata cerca de 8 mil pessoas por ano e, infelizmente, muitas vezes é diagnosticado tardiamente, tornando difícil o sucesso no tratamento.
“O câncer de esôfago é um tipo de câncer muito carente de tratamentos eficazes. As drogas aprovadas têm um impacto limitado em aumentar a sobrevida dos pacientes e mesmo em curá-los. É uma área de bastante desafio que ainda tem que melhorar bastante em termos de novas drogas. Por isso, qualquer terapia que se mostra benéfica é algo para se comemorar”, afirmou Celso Abdon Lopes de Mello, oncologista do A.C.Camargo Cancer Center, durante a II Bienal Internacional de Oncologia promovida pela instituição.
O estudo TRANS-COG observou alterações no gene EGFR em amostras de tumores de 295 pacientes com câncer do esôfago que receberam gefitinibe ou placebo como parte do estudo COG. Dos 48 pacientes com expressão de EGFR nas células tumorais, 13% dos que receberam gefitinibe sobreviveram por pelo menos um ano, enquanto nenhum dos pacientes que recebeu placebo sobreviveu tanto tempo.
A administração de gefitinibe para pacientes que não têm mutação EGFR não fez diferença no tempo de sobrevida, o que sugere que o teste para EGFR pode identificar um subgrupo de pacientes de câncer esofágico que pode se beneficiar do medicamento. A estimativa é que esse grupo corresponda a cerca de 16% dos pacientes com a doença.
Russell Petty, médico oncologista da Universidade de Aberdeen, que apresentou os dados, afirmou que esta é uma notícia emocionante. “É a primeira vez que qualquer droga demonstra benefício na sobrevida para os pacientes com câncer esofágico que pararam de responder ao tratamento inicial. Até hoje os progressos nesse tipo de câncer foram decepcionantes”, diz.
Matt Seymour, diretor de pesquisa clínica do NCRI, disse que embora o benefício de sobrevida para estes pacientes tenha sido relativamente modesto, este estudo é um passo importante para um tipo de câncer onde o progresso no tratamento foi tímido nas últimas décadas. “Embora tenha havido algum sucesso no tratamento de outros tipos de câncer do sistema digestivo, o de esôfago continua a ser extremamente difícil de tratar, com apenas 13% dos pacientes sobrevivendo cinco anos ou mais. Vai ser interessante observar se esta droga, oferecida aos pacientes certos, poderá trazer benefícios semelhantes àqueles oferecidos aos pacientes com doença na fase anterior, e também se outras drogas que têm como alvo o EGFR podem vir a ser ainda mais eficazes”, afirmou.
O estudo TRANS-COG foi financiado pelo Scottish Government’s Chief Scientist Office, pela Cameron Clinical Academic Fellowship e pelo Gastro-oesophageal Cancer Research Fund (GASTROCAN).
Referências: http://ecancer.org/news/6545-trial-results-reveal-first-targeted-treatment-to-boost-survival-for-oesophageal-cancer.php
Petty R. et al, Epidermalgrowthfactor receptor copynumbergain (EGFR CNG) and response togefitinib in oesophagealcancer (OC): Resultsof a biomarkeranalysisof a phase III trialofgefitinib versus placebo (TRANS-COG).
Abstract:http://conference.ncri.org.uk/epidermal-growth-factor-receptor-copy-number-gain-egfr-cng-and-response-to-gefitinib-in-oesophageal-cancer-oc-results-of-a-biomarker-analysis-of-a-phase-iii-trial-of-gefitinib-versus-placebo-tra/