O ecossistema de tumores cerebrais é considerado imunossuprimido, mas estudo de Björn Scheffler e colegas relatado na Nature Medicine utilizou radioligante como biomarcador de células imunes e identificou que a medula óssea da calota craniana de pacientes com glioblastoma recém-diagnosticado e sem tratamento prévio abriga populações linfoides ativas no momento do diagnóstico inicial. “Os dados deste estudo defendem a preservação e exploração adicional dessas unidades cranioencefálicas para o tratamento clínico do glioblastoma”, destacam os autores. A oncologista Camilla Yamada (foto), líder do grupo de neuro-oncologia da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, analisa o estudo.
O grupo alemão pesquisou espécimes de pacientes com glioblastoma recém diagnosticados ou doença intracraniana não maligna. Combinando imagens, perfil molecular tumoral e de células imunes, além da quantificação da reatividade tumoral, os pesquisadores identificaram clones de células T CD8+ na medula óssea craniana que também foram encontrados no tumor. “Seus efetores são caracterizados por uma resposta tumoral duradoura e, em comparação com células da medula óssea distal, por uma expressão aumentada do marcador linfoide S1PR1”, sustentam.
A pesquisa também identificou a recirculação entre o osso proximal e o tecido tumoral, através da presença compartilhada de clones reativos. O radiomarcador CXCR4 na medula óssea craniana, e não no tumor, pode servir como marcador e instituir um novo paradigma. “Nossa observação foi feita no momento do diagnóstico inicial, antes do início do tratamento”, sublinham os autores, o que sugere que pacientes com um eixo imunológico intacto, antes da craniotomia, podem ter maior probabilidade de responder à imunoterapia.
Para Camila Yamada, esses achados são um marco de relevância na neuro-oncologia. “Essa descoberta é muito importante e corrobora dados preliminares de uma maior resposta à imunoterapia no cenário neoadjuvante em detrimento de sua utilização em fases subsequentes do tratamento. Aguardamos estudos após essa publicação, apostando na sinergia dos linfócitos T CD8 da medula óssea da calota craniana associado ao tratamento com imunoterapia em cenários mais precoces”, diz.
Referência:
Dobersalske, C., Rauschenbach, L., Hua, Y. et al. Cranioencephalic functional lymphoid units in glioblastoma. Nat Med (2024). https://doi.org/10.1038/s41591-024-03152-x