Estudo de pesquisadores brasileiros não identificou variantes CDH1 germinativas patogênicas em pacientes com câncer gástrico de início precoce, porém sugere que os hábitos alimentares podem estar associados ao desenvolvimento da doença. Os resultados do trabalho liderado pelo oncologista Rodrigo Guindalini (foto), pós-doutorando da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Centro de Genética e Prevenção do Câncer do Grupo CAM/CLION, em Salvador, foram publicados no periódico Gastric Cancer, em acesso aberto.
A contribuição das variantes germinativas do CDH1 para a carga do câncer gástrico entre jovens adultos é desconhecida no Brasil. Nesse estudo, os pesquisadores buscaram avaliar a frequência de variantes germinativas CDH1 e os hábitos de dieta/estilo de vida em pacientes com câncer gástrico de início precoce (≤55 anos de idade).
Entre 2013 a 2015, um total de 88 pacientes diagnosticados com câncer gástrico de início precoce foram incluídos. Todos os exons do gene CDH1 e as regiões intrônicas adjacentes aos exons foram sequenciados, e grandes rearranjos genômicos foram avaliados pela técnica de MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification).
A análise da transcrição de CDH1 foi realizada para variantes que poderiam potencialmente induzir um efeito no splicing. Os hábitos alimentares e de estilo de vida dos pacientes foram comparados com a dieta e estilo de vida da população brasileira geral, obtidos em bancos de dados governamentais.
Resultados
A média de idade ao diagnóstico dos 88 pacientesfoi de 39 anos, e 55% dos participantes do estudo preencheram os critérios para câncer gástrico difuso hereditário. A maioria dos tumores era difuso (74%) e pouco diferenciado (80%). No total, 4 novas variantes missense de significado indeterminado (VUS) foram identificadas: c.313T> A, c.387G> T, c.1676G> A, e c.1806C> A.
Os resultados da MLPA não revelaram rearranjos e a análise da transcrição de CDH1 para variantes de interesse foi inconclusiva. Os pacientes com câncer gástrico precoce tiveram maior ingestão de carne vermelha (OR: 2,6, 95% CI: 1,4-4,9) e processada (OR: 3,1, IC 95%: 1,6-6,0) e maior consumo de frutas (OR: 0,4, 95% IC: 0,3 –0,7) em comparação com os hábitos alimentares da população brasileira.
“Não identificamos variantes CDH1 germinativas patogênicas inequívocas na nossa coorte de pacientes brasileiros com câncer gástrico abaixo de 55 anos, porém nossos resultados sugerem que o desenvolvimento de câncer gástrico precoce pode estar associado aos hábitos alimentares dessa população”, afirmou Guindalini.
Referência: Frequency of CDH1 germline variants and contribution of dietary habits in early age onset gastric cancer patients in Brazil - Rodrigo Santa Cruz Guindalini et al - Gastric Cancer, 20 March 2019 - https://doi.org/10.1007/s10120-019-00945-9