Onconews - Venetoclax e agentes hipometilantes em octo e nonagenários com leucemia mieloide aguda

O tratamento padrão para leucemia mieloide aguda (LMA) com venetoclax combinado com um agente hipometilante (HMA) é seguro e eficaz para adultos com mais de 80 anos, de acordo com um estudo publicado na Blood Neoplasia, periódico da American Society of Hematology (ASH). “Para cerca de um quarto dos pacientes, este tratamento pode prolongar de forma duradoura a sobrevida”, destacam os autores.

O regime venetoclax (VEN) mais HMA (VEN-HMA) é o tratamento padrão para idosos com LMA. No entanto, está associado a mielossupressão e complicações significativas, limitando potencialmente seu uso em muito idosos (octogenários e nonagenários), que podem ser considerados inelegíveis para receber o tratamento e encaminhados para cuidados paliativos.

Nesse estudo, os pesquisadores realizaram uma análise retrospectiva multicêntrica do tratamento com VEN-HMA em octo e nonagenários para compreender melhor a tolerabilidade, viabilidade, considerações de dosagem e eficácia clínica nessa população de pacientes .

Foram analisados pacientes com LMA com 80 anos ou mais que receberam VEN-HMA entre março de 2015 e abril de 2022. A dosagem de VEN-HMA foi determinada pelo médico assistente, levando em consideração os ajustes de dose da interação medicamentosa do CYP3A4. Foram incluídos 154 pacientes, com idade mediana de 82 anos (variação 80-92), que receberam tratamento com VEN-HMA em seis instituições médicas nos Estados Unidos e na Itália.

Os participantes tinham uma idade média de 82 anos (variação de 80-92) e 69% eram do sexo masculino. 77% dos pacientes incluídos no estudo foram recentemente diagnosticados, 10% tiveram LMA recidivada ou refratária e, para 14%, o status da doença era desconhecido.

67% dos pacientes iniciaram o tratamento com a dose padrão e esquema de tratamento de VEN-HMA, e 72% da coorte tiveram modificações subsequentes em sua dose ou esquema de venetoclax após o ciclo 1 (por exemplo, redução na duração de venetoclax). Em toda a coorte, os pacientes receberam uma dose média final de venetoclax de 400 mg por 21 dias, repetida a cada 35 dias. Os pacientes que demonstraram resposta ao tratamento receberam uma dose final mediana de venetoclax de 200 mg de Venetoclax por 21 dias, em ciclos de 35 dias.

Aproximadamente 20 a 25% de todos os pacientes tratados tiveram sobrevida prolongada, o que corresponde a cerca de 40% daqueles que responderam ao tratamento. A mediana de sobrevida global foi de 8,1 meses e, para aqueles que responderam ao tratamento, foi de 13,2 meses. Com pouco menos de oito meses de acompanhamento, 23% dos pacientes permaneceram em remissão, enquanto 20% ainda estavam recebendo tratamento. As taxas de mortalidade em 30 e 60 dias de tratamento foram de 8,5% e 17%, respectivamente.

Para pacientes com LMA recém-diagnosticada sem síndrome mielodisplásica (SMD) prévia, 73% alcançaram remissão completa ou remissão completa com recuperação incompleta da contagem (CRc), quando a contagem de células leucêmicas de um paciente é indetectável, mas a contagem de células sanguíneas não retornou totalmente aos níveis normais. Para os pacientes que alcançaram CRc, aqueles que receberam venetoclax com duração final de 14 dias ou menos por ciclo tiveram um melhor tempo médio de sobrevida (mediana de 24,0 meses).

Os pacientes cujas células cancerígenas apresentavam uma mutação em TP53 – uma proteína vital para prevenir o crescimento celular anormal – apresentaram uma sobrevida global mais baixa. Pacientes com mutação na proteína NPM1 tiveram sobrevida muito favorável, e pacientes com mutações K/NRAS ou FLT3-ITD não tiveram sobrevida inferior em comparação com aqueles sem as mutações.

“Nossas descobertas podem encorajar os prestadores de cuidados em saúde a explorar cuidadosamente todas as vias de tratamento para pacientes idosos com LMA, em vez de recorrer prematuramente apenas ao HMA, aos melhores cuidados de suporte ou aos cuidados paliativos”, disse Justin Watts, hematologista do Sylvester Comprehensive Cancer Center da Universidade de Miami, em Miami, Flórida, e autor correspondente do estudo. “Vale ressaltar que o tratamento desta população de pacientes requer o ajuste da dosagem e da duração do VEN-HMA”, explicou Watts, sugerindo que eles podem se beneficiar de uma dosagem reduzida.

Os pesquisadores pretendem estudar a dose ideal e o esquema de tratamento para esta população para melhorar ainda mais os resultados, além de explorar a relação entre a doença residual mínima (DRM) e o subtipo molecular na exposição ao venetoclax e na interrupção do tratamento em um subgrupo de pacientes com resposta duradoura. Os pesquisadores também planejam investigar o impacto do tratamento na qualidade de vida desses pacientes.

Referência: Venetoclax and Hypomethylating Agents in Octo- and Nonagenarians with Acute Myeloid Leukemia, Blood Neoplasia (2024).