Onconews - VESPER: quimioterapia perioperatória no câncer de bexiga músculo-invasivo não metastático

carvalhal 2021A quimioterapia neoadjuvante é recomendada para o tratamento do câncer de bexiga músculo invasivo não metastático. No entanto, o regime ideal a ser administrado ainda não está definido. Agora, resultados do estudo prospectivo randomizado de fase III GETUG-AFU V05 VESPER publicados no Journal of Clinical Oncology sugerem que o regime com metotrexato de dose densa, vinblastina, doxorrubicina e cisplatina (dd-MVAC) deve se tornar o padrão-ouro para quimioterapia neoadjuvante devido a uma maior taxa de controle local e uma melhora significativa na sobrevida livre de progressão em 3 anos. Gustavo Franco Carvalhal (foto), professor da Escola de Medicina da PUCRS e cirurgião do Hospital Moinhos de Vento, analisa os resultados.

Entre fevereiro de 2013 e março de 2018, 500 pacientes em 28 centros franceses foram randomizados para receber seis ciclos de metotrexato de dose densa, vinblastina, doxorrubicina e cisplatina (dd-MVAC) uma vez a cada 2 semanas ou quatro ciclos de gencitabina e cisplatina (GC) uma vez a cada 3 semanas antes da cirurgia (grupo neoadjuvante) ou após a cirurgia (grupo adjuvante). O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) em 3 anos. Desfechos secundários incluíram tempo de progressão e sobrevida global.

Resultados

Quatrocentos e trinta e sete pacientes (88%) receberam quimioterapia neoadjuvante; 60% dos pacientes receberam os seis ciclos planejados no braço dd-MVAC, 84% receberam quatro ciclos no braço GC e, posteriormente, 91% e 90% dos pacientes foram submetidos à cirurgia, respectivamente. A resposta confinada ao órgão (< ypT3N0) foi observada com mais frequência no braço dd-MVAC (77% v 63%, P = 0,001). No grupo adjuvante, 40% dos pacientes receberam seis ciclos no braço dd-MVAC e 81% dos pacientes receberam quatro ciclos no braço GC.

Para todos os pacientes no ensaio clínico, a SLP em 3 anos foi melhor no braço dd-MVAC, mas o estudo não atingiu seu desfecho primário (taxa em 3 anos: 64% v 56%, hazard ratio [HR] = 0,77 [95% CI, 0,57 a 1,02], P = 0,066). No entanto, o braço dd-MVAC foi associado a um tempo de progressão significativamente maior (taxa em 3 anos: 69% v 58%, HR = 0,68 [95% CI, 0,50 a 0,93], P = 0,014). No grupo neoadjuvante, a sobrevida livre de progressão em 3 anos foi significativamente maior no braço dd-MVAC (66% v 56%, HR = 0,70 [95% CI, 0,51 a 0,96], P = 0,025).

“O estudo VESPER, recentemente publicado no JCO, vem agregar força à ideia de que a quimioterapia com dose densa de MVAC (dd-MVAC) no perioperatório de cistectomia radical possa ser superior em eficácia ao esquema com Gemcitabina e Cisplatina (Gem-cis), muitas vezes preferido por apresentar menor toxicidade em estudos prévios. Este estudo multicêntrico francês do GETUC-GU randomizou prospectivamente 500 pacientes para receberem dd-MVAC com seis ciclos a cada duas semanas ou Gem-cis por quatro ciclos a cada três semanas. Os resultados foram superiores, tanto nas taxas de estadiamento patológico restrito ao órgão como na sobrevida livre de progressão para o esquema dd-MVAC, sugerindo que este esquema é mesmo mais eficaz. A força de um estudo prospectivo randomizado de fase 3 pode transformar este regime no novo padrão-ouro do tratamento peri-operatório dos pacientes submetidos ã cistectomia radical”, afirma Carvalhal. 

No entanto, ele pondera que é importante considerar que a toxicidade do esquema dd-MVAC foi maior. “Somente cerca de 60% dos pacientes randomizamos conseguiram completar as seis doses previstas de dd-MVAC, enquanto no esquema Gem-cis cerca de 80% dos pacientes conseguiram completar os quatro ciclos previstos. A toxicidade foi significativamente superior no grupo de dd-MVAC principalmente em relação à anemia, náuseas, vómitos e astenia”, ressalta.

Segundo o especialista, atualmente existe uma tendência crescente em aceitarmos a sobrevida livre de progressão (SLP) como um desfecho intermediário que elimina a necessidade de diferenças na sobrevida global, câncer-específica ou não, para a aprovação de novas drogas ou para a introdução de novos esquemas na prática clínica. “Isto reduz o tempo necessário para a avaliação da eficácia e permite agilidade para a adoção de esquemas de eficácia superior. No entanto, o estudo VESPER segue em andamento, e os resultados de sobrevida global em cinco anos são aguardados para breve”, conclui.

O estudo GETUG-AFU V05 VESPER está registrado no ClinicalTrials.gov, NCT01812369. 

Referência: Pfister C, Gravis G, Fléchon A, Chevreau C, Mahammedi H, Laguerre B, Guillot A, Joly F, Soulié M, Allory Y, Harter V, Culine S; VESPER Trial Investigators. Dose-Dense Methotrexate, Vinblastine, Doxorubicin, and Cisplatin or Gemcitabine and Cisplatin as Perioperative Chemotherapy for Patients With Nonmetastatic Muscle-Invasive Bladder Cancer: Results of the GETUG-AFU V05 VESPER Trial. J Clin Oncol. 2022 Mar 7:JCO2102051. doi: 10.1200/JCO.21.02051. Epub ahead of print. PMID: 35254888.