Regular a incorporação de tecnologias sanitárias é sempre uma tarefa complexa, tanto no âmbito público, sob a responsabilidade da CONITEC, quanto no privado, a cargo da ANS. O que preocupa é como vão caminhar esses dois mundos. Luiz Augusto Maltoni Junior (foto), diretor de Oncologia da Amil, defende a convergência do debate entre o sistema de saúde público e privado. “A gente continua repetindo erros quando entende esses dois sistemas separadamente. Eles devem começar a ser olhados de forma complementar e precisamos trabalhar de alguma forma para que isso de fato possa acontecer. Chego a ficar chocado com a discussão de que a avaliação de tecnologia é diferente para quem é SUS e para quem tem acesso à saúde suplementar. Isso é um absurdo, não pode acontecer”, diz.
Maltoni reforça o papel de uma estrutura de avaliação de tecnologia que sirva para todos os pacientes que precisam da inovação, o que independe de onde esse paciente vai se tratar. “Isso é consequência. Ao longo dos anos, existe massa crítica cada vez maior tentando se organizar, mas a gente ainda está engatinhando. Precisamos dar passos largos para montar uma estrutura de avaliação de tecnologia para o país que atenda essa necessidade”, defende.
| “O economista Roberto Campos fala sobre a socialização da pobreza. Temos que fazer o contrário, investir dinheiro nisso” |
Denizar Viana diz que gostaria de um cenário onde não houvesse diferença entre o SUS e o sistema de saúde suplementar, mas lembra que a diferença existe e é profunda - da gestão ao financiamento. “O economista Roberto Campos fala sobre a socialização da pobreza. Temos que fazer o contrário, investir dinheiro nisso. Porque alguém tem que pagar a conta”, diz.
Mas como construir esse diálogo entre saúde suplementar e pública, em especial na esfera da oncologia?
“Precisamos questionar e até redesenhar esse modelo de saúde”, defende Maltoni. “O modelo de remuneração, seja para cirurgia, seja para o próprio clínico, está falido e precisa ser revisto”. Na gestão, também há muito trabalho pela frente para modernizar a saúde suplementar, hoje fragmentada em clínicas e realidades isoladas. “Temos que criar centros integrais de assistência ao paciente com câncer para que ele possa ter sua situação resolvida”, diz. Para Denizar, mudar o modelo implica repensar o papel regulador do Estado. “Tem uma série de formas de lidar com isso, desde a desoneração fiscal até a possibilidade de contratar serviços da iniciativa privada”, propõe.