Onconews - SAN ANTONIO 2024 - Page #3

SAN ANTONIO 2024

A ASCO desenvolveu medidas de qualidade sobre a administração de terapia endócrina adjuvante, radioterapia e quimioterapia para melhorar a qualidade e acessibilidade do tratamento do câncer. A oncologista Anne Dominique Nascimento Lima (foto) e colegas aplicaram essas medidas para descrever a qualidade do atendimento oferecido a mulheres com câncer de mama em uma das unidades do Instituto Nacional do Câncer (HC III/INCA). O trabalho foi apresentado no SABCS 2024 e mostra que idade acima de 60 anos, estadiamento avançado e radioterapia adjuvante foram preditores de não concordância com as medidas de qualidade da ASCO na coorte avaliada.

Jessé Lopes da Silva (foto), pesquisador do INCA, é primeiro autor de estudo selecionado em poster no SABCS 2024, com achados que mostram correlação inversa entre a proporção de óbitos domiciliares por câncer de mama (CM) no Brasil e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) regional, revelando que pacientes das regiões de menor IDH do Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram maiores taxas de óbitos domiciliares na comparação com as regiões Sudeste e Sul, de maior IDH. “Esses achados ressaltam a necessidade de políticas que abordem o impacto de fatores sociais como raça, educação e IDH na localização dos cuidados de fim de vida para pacientes com CM no Brasil”, analisam os autores.

A oncologista Natália Nunes (foto) é primeira autora de estudo multicêntrico selecionado no programa do SABCS 2024, que avaliou os resultados relatados pelas pacientes (PRO), considerando mulheres com câncer de mama na pré-menopausa que receberam ou não supressão da função ovariana. “Nosso estudo enfatiza a necessidade de uma abordagem personalizada e empática no atendimento a essas pacientes, assim como destaca a necessidade de avaliações regulares de saúde sexual por profissionais de saúde oncológicos”, analisam os autores.

A disparidade racial pode ser um fator crítico que influencia o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, incluindo o rastreamento e o diagnóstico do câncer de mama (CM). A mastologista Juliana Francisco (foto) apresentou no SABCS 2024 estudo que mostra profundas disparidades no rastreamento, diagnóstico e tratamento do CM no Brasil, indicando que 46,5% das mulheres pretas receberam diagnóstico de CM em estágio 3 ou 4 no período avaliado, comparado a 35,5% em mulheres brancas, e 65,5% das mulheres pretas iniciaram o tratamento após 60 dias. “Somente através de abordagens integradas e inclusivas será possível garantir que todas as mulheres, independentemente de sua raça ou etnia, tenham acesso igualitário a cuidados de saúde de qualidade e, assim, melhorar o impacto nas taxas de sobrevida ao câncer de mama e na qualidade de vida”, destacam os autores.

A revisão de biópsia externa de rotina por patologistas institucionais é uma prática implementada por muitos centros de câncer. No entanto, obter uma revisão patológica central rápida e eficiente pode ser desafiador em países de baixa e média renda, assim como o atraso no processo de revisão pode dificultar o início oportuno do tratamento, apresentando desafios adicionais para os pacientes. Estudo do INCA apresentado no SABCS 2024 mostrou alto índice de concordância entre biópsias de mama externas e internas, em análise que tem como primeira autora a oncologista Ana Carolina Teixeira Pires (foto).

Análise do estudo DESTINY Breast12 apresentada no SABCS 2024 por Nadia Harbeck  (foto) relatou o efeito de trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) na qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) e na função neurológica de pacientes com câncer de mama metastático HER2+ com e sem metástases cerebrais. Os resultados mostram que a QVRS e a função neurológica foram preservadas na maioria dos pacientes recebendo T-DXd.

O tratamento com trastuzumabe deruxtecana melhorou os resultados dos pacientes com câncer de mama metastático HER2-low (imuno-histoquímica [IHC] 1+ ou IHC 2+ com hibridização in situ negativa) em comparação com o tratamento padrão, como demonstram os ensaios DESTINY-Breast04 e DESTINY-Breast06. Estudo global selecionado no SABCS 2024 apresentou a concordância do teste VENTANA Pathway 4B5 com outros comparadores na identificação do câncer de mama HER2-low, reforçando que o conhecimento das novas opções de tratamento disponíveis, o treinamento de patologistas e a otimização dos métodos analíticos são fundamentais para a identificação precisa de pacientes com níveis de expressão de HER2 clinicamente acionáveis.

Uma nova pesquisa clínica avaliando a combinação do anti-PD-L1 durvalumabe (durva) com o conjugado anticorpo-fármaco datopotamabe deruxtecan (Dato-DXd) espera dar respostas a uma necessidade não atendida para pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático com recidiva precoce. O desenho do estudo e seus principais objetivos foram apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposim.

O carcinoma lobular invasivo é a segunda histologia mais comum do câncer de mama e tem menor taxa de resposta à quimioterapia comparada aos tumores ductais/sem tipo especial (NST). Laura Testa (foto), oncologista do ICESP, é autora sênior de estudo selecionado no SABCS 2024, que descreve resultados de sobrevida de uma coorte institucional de pacientes com carcinoma lobular invasivo. “Em nosso estudo, a sobrevida livre de doença e a sobrevida global foram maiores para quimioterapia adjuvante do que neoadjuvante, especialmente para os estágios I e II”, descreve o trabalho, que tem como primeiro autor o oncologista Raelson Miranda (foto).

A radioterapia (RT) é frequentemente necessária no cenário metastático, seja para fins paliativos ou com intenção ablativa em casos de doença oligometastática ou oligoprogressiva. Estudo que avaliou a segurança do uso concomitante de trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) e RT em uma coorte internacional multicêntrica de pacientes com câncer de mama apresentou no SABCS 2024 resultados preliminares,  mostrando que a combinação  não aumentou a toxicidade aguda grave.

Diretrizes atuais recomendam monitorar a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) a cada 3 meses em pacientes que recebem terapia anti- HER2. Meta-análise apresentada no SABCS 2024 revela que a incidência de cardiotoxicidade foi maior com trastuzumabe quando comparada a trastuzumabe emtansina (T-DM1) e trastuzumabe deruxtecana (T-DXd). No entanto, o risco de cardiotoxicidade sintomática foi baixo, variando de 0,3 (T-DXd) a1,6% (trastuzumabe). “Nossos achados sugerem que a incidência de cardiotoxicidade clinicamente relevante é baixa e, portanto, o monitoramento da FEVE a cada 3 meses pode não ser necessário. Monitoramento menos frequente pode diminuir o número de visitas para os pacientes, bem como a toxicidade financeira”, analisam os autores. O estudo tem participação da brasileira Maria Clara Saad (foto), atualmente na Harvard T. H. Chan School of Public Health.